Correio de Carajás

Usuário sofre na fila do Detran

No ano de 2016, o Departamento de Trânsito do Estado do Pará (Detran) arrecadou a “bagatela” de R$ 403,66 milhões. Somente nos primeiros nove meses deste ano já foram arrecadados pelo órgão nada menos de R$ 357,8 milhões. Mesmo assim, o departamento não tem conseguido oferecer um bom retorno para os usuários que bancam o seu funcionamento. Pelo menos é o que se vê no interior do Estado, como é o caso de Marabá, onde a Circunscrição Regional de Trânsito tem sido capenga no atendimento ao usuário, que sofre em pé nas filas e tem que andar de um lado para o outro em busca de atendimento. O CORREIO promove um raio x do problema, em ampla reportagem sobre o assunto.

O pior é que, pelo visto, não se trata de má vontade dos servidores lotados na repartição. Pelo contrário, eles até se esforçam bastante. O problema é estrutural. É o Estado mesmo que parece não estar interessado em respeitar o usuário dos serviços, o pagador dos impostos, que faz a máquina pública funcionar e deveria ser a razão da existência da estrutura física montada na cidade.

Basta passar alguns momentos no interior da agência de Marabá, para capturar os desabafos de gente que está cansada de pagar impostos e não ter o mínimo de retorno decente. É o caso de Lindomar Paiva, que há 18 anos mora em Marabá. Ele estava revoltado com a demora em conseguir atendimento. “A questão é que tem pouco funcionário para muito movimento. Olha a quantidade de gente!”, observou.

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Ainda de acordo com o usuário, é inadmissível que apenas um funcionário atenda em dois guichês, um para entrega de documentos de veículos e outro para entrega de Carteiras de Habilitação. “Se tem dois guichês, é óbvio que tem que ter um funcionário em cada um”, observa.

Exibindo um boleto de pagamento de uma transferência de domínio de veículo, no valor de R$ 328,80, Lindomar Paiva questionava a qualidade do retorno do serviço para os usuários. “A gente paga um valor desses para ser atendido dessa maneira”, pontuou.

Mais recursos humanos

“Pelo que eu estou vendo vou passar mais de duas horas na fila para pegar um documento de um veículo”. O desabafo é de Marcos Veloso, residente em Marabá. Ele relata que ao se deparar com o formato de atendimento na agência de Marabá, ficou claro que há necessidade de mais servidores com certa urgência.

“Eu acho que está faltando um recurso humano melhor, porque a gente está passando muito tempo na fila. Coisas que eram para ser resolvidas num dia, você não consegue resolver, então eu acho que o Detran tinha que disponibilizar um atendimento melhor”, reafirma.

Por sua vez, dona Regivanda Melo também se indignou pelo mesmo motivo. Ela não se conformava com o fato de que havia apenas um funcionário para atender a quem precisa pegar documento de veículo e Habilitação. Admirou-se com o fato de que o próprio diretor do órgão, Gilvam Soares dos Santos, estava fazendo atendimento, o que certamente atrasa outras atividades e pouco contribui para atender aos usuários.

“A gente perde um dia inteiro de serviço… E ainda mais: é em pé”, desabafou, acrescentando que mora na cidade de Bom Jesus do Tocantins, a quase 100 km de Marabá, de modo que ela tem que tirar realmente um dia inteiro para conseguir atendimento.

A mesma indignação moveu a reclamação de Eder Augusto Oliveira Nascimento, morador do Bairro Liberdade, núcleo Cidade Nova, em Marabá. O usuário do Detran observou que havia mais de 100 pessoas na fila e classificou o atendimento como “incorreto”. “O serviço é muito lento. Tem que melhorar esse atendimento”, suplicou.

Agendamento também fica prejudicado

Mas nem tudo é reclamação. O agendamento via Internet melhorou bastante para quem vai em busca de tirar a primeira Carteira Nacional de Habilitação (CNH), por exemplo. É o que explica Tom Richene, proprietário de autoescola em Marabá. Ele observa que antes do agendamento o candidato muitas vezes chegava de madrugada ao DETRAN, mas isso mudou.

Por outro lado, o problema da falta de pessoal afeta até mesmo o agendamento via Internet. Pois, atualmente, segundo explica Richene, devido a saída de alguns funcionários e não havendo a substituição, o sistema diminuiu a quantidade de agendamentos por dia. “Isso afetou o acesso do usuário”, resume.

Porém, Richene acredita que essa situação atual é temporária e não depende do diretor. “O usuário quer, às vezes, arrumar um bode expiatório, aí põe culpa no Gilvam, mas ele não tem responsabilidade nenhuma em relação a isso”, aposta.

Mas, em contrapartida, para ajudar a desafogar o atendimento no DETRAN, o empresário lembra que está sendo feito atendimento na Estação Cidadania, no shopping Pátio Marabá, onde não há agendamento, mas são apenas 50 atendimentos por dia.

Ouvido pelo jornal, Gilvam Soares admitiu que o atendimento é, de fato, deficitário e isso se dá pela saída de seis servidores contratados, que foram distratados e não houve substituição. Mas, por outro lado, ele assegura que ninguém deixa de ser atendimento. O que ocorre, segundo Gilvam, é que se eleva o tempo para atendimento, pelo que ele pediu desculpas aos usuários.

Perguntado sobre qual o número de servidores que seria ideal para garantir o atendimento aos usuários de Marabá e dos outros seis municípios atendidos, seria de pelo menos 20 servidores, mas hoje existe apenas metade desse total. Ele espera que essa situação seja resolvida por meio de concurso.

Enquanto isso, afirma que vem trabalhando em três turnos todos os dias e está até mesmo entregando documentos de veículos e Habilitações, o que demonstra boa vontade em diminuir o tempo de pessoas na fila, mas certamente engaveta outros serviços do órgão. 

Saiba Mais

Na próxima edição do Correio (de sábado, dia 21), o diretor do Detran em Marabá, Gilvam Soares, traça um Raio X completo das carências do órgão e de todas as medidas que ele vem tentando tomar para melhorar a prestação de serviço ao usuário. Fala também a respeito das clínicas cadastradas para a realização de exames médicos em Marabá. Apenas duas funcionam, mas há pelo menos mais três que estão em fase de regularização. (Chagas Filho)

 

No ano de 2016, o Departamento de Trânsito do Estado do Pará (Detran) arrecadou a “bagatela” de R$ 403,66 milhões. Somente nos primeiros nove meses deste ano já foram arrecadados pelo órgão nada menos de R$ 357,8 milhões. Mesmo assim, o departamento não tem conseguido oferecer um bom retorno para os usuários que bancam o seu funcionamento. Pelo menos é o que se vê no interior do Estado, como é o caso de Marabá, onde a Circunscrição Regional de Trânsito tem sido capenga no atendimento ao usuário, que sofre em pé nas filas e tem que andar de um lado para o outro em busca de atendimento. O CORREIO promove um raio x do problema, em ampla reportagem sobre o assunto.

O pior é que, pelo visto, não se trata de má vontade dos servidores lotados na repartição. Pelo contrário, eles até se esforçam bastante. O problema é estrutural. É o Estado mesmo que parece não estar interessado em respeitar o usuário dos serviços, o pagador dos impostos, que faz a máquina pública funcionar e deveria ser a razão da existência da estrutura física montada na cidade.

Basta passar alguns momentos no interior da agência de Marabá, para capturar os desabafos de gente que está cansada de pagar impostos e não ter o mínimo de retorno decente. É o caso de Lindomar Paiva, que há 18 anos mora em Marabá. Ele estava revoltado com a demora em conseguir atendimento. “A questão é que tem pouco funcionário para muito movimento. Olha a quantidade de gente!”, observou.

Ainda de acordo com o usuário, é inadmissível que apenas um funcionário atenda em dois guichês, um para entrega de documentos de veículos e outro para entrega de Carteiras de Habilitação. “Se tem dois guichês, é óbvio que tem que ter um funcionário em cada um”, observa.

Exibindo um boleto de pagamento de uma transferência de domínio de veículo, no valor de R$ 328,80, Lindomar Paiva questionava a qualidade do retorno do serviço para os usuários. “A gente paga um valor desses para ser atendido dessa maneira”, pontuou.

Mais recursos humanos

“Pelo que eu estou vendo vou passar mais de duas horas na fila para pegar um documento de um veículo”. O desabafo é de Marcos Veloso, residente em Marabá. Ele relata que ao se deparar com o formato de atendimento na agência de Marabá, ficou claro que há necessidade de mais servidores com certa urgência.

“Eu acho que está faltando um recurso humano melhor, porque a gente está passando muito tempo na fila. Coisas que eram para ser resolvidas num dia, você não consegue resolver, então eu acho que o Detran tinha que disponibilizar um atendimento melhor”, reafirma.

Por sua vez, dona Regivanda Melo também se indignou pelo mesmo motivo. Ela não se conformava com o fato de que havia apenas um funcionário para atender a quem precisa pegar documento de veículo e Habilitação. Admirou-se com o fato de que o próprio diretor do órgão, Gilvam Soares dos Santos, estava fazendo atendimento, o que certamente atrasa outras atividades e pouco contribui para atender aos usuários.

“A gente perde um dia inteiro de serviço… E ainda mais: é em pé”, desabafou, acrescentando que mora na cidade de Bom Jesus do Tocantins, a quase 100 km de Marabá, de modo que ela tem que tirar realmente um dia inteiro para conseguir atendimento.

A mesma indignação moveu a reclamação de Eder Augusto Oliveira Nascimento, morador do Bairro Liberdade, núcleo Cidade Nova, em Marabá. O usuário do Detran observou que havia mais de 100 pessoas na fila e classificou o atendimento como “incorreto”. “O serviço é muito lento. Tem que melhorar esse atendimento”, suplicou.

Agendamento também fica prejudicado

Mas nem tudo é reclamação. O agendamento via Internet melhorou bastante para quem vai em busca de tirar a primeira Carteira Nacional de Habilitação (CNH), por exemplo. É o que explica Tom Richene, proprietário de autoescola em Marabá. Ele observa que antes do agendamento o candidato muitas vezes chegava de madrugada ao DETRAN, mas isso mudou.

Por outro lado, o problema da falta de pessoal afeta até mesmo o agendamento via Internet. Pois, atualmente, segundo explica Richene, devido a saída de alguns funcionários e não havendo a substituição, o sistema diminuiu a quantidade de agendamentos por dia. “Isso afetou o acesso do usuário”, resume.

Porém, Richene acredita que essa situação atual é temporária e não depende do diretor. “O usuário quer, às vezes, arrumar um bode expiatório, aí põe culpa no Gilvam, mas ele não tem responsabilidade nenhuma em relação a isso”, aposta.

Mas, em contrapartida, para ajudar a desafogar o atendimento no DETRAN, o empresário lembra que está sendo feito atendimento na Estação Cidadania, no shopping Pátio Marabá, onde não há agendamento, mas são apenas 50 atendimentos por dia.

Ouvido pelo jornal, Gilvam Soares admitiu que o atendimento é, de fato, deficitário e isso se dá pela saída de seis servidores contratados, que foram distratados e não houve substituição. Mas, por outro lado, ele assegura que ninguém deixa de ser atendimento. O que ocorre, segundo Gilvam, é que se eleva o tempo para atendimento, pelo que ele pediu desculpas aos usuários.

Perguntado sobre qual o número de servidores que seria ideal para garantir o atendimento aos usuários de Marabá e dos outros seis municípios atendidos, seria de pelo menos 20 servidores, mas hoje existe apenas metade desse total. Ele espera que essa situação seja resolvida por meio de concurso.

Enquanto isso, afirma que vem trabalhando em três turnos todos os dias e está até mesmo entregando documentos de veículos e Habilitações, o que demonstra boa vontade em diminuir o tempo de pessoas na fila, mas certamente engaveta outros serviços do órgão. 

Saiba Mais

Na próxima edição do Correio (de sábado, dia 21), o diretor do Detran em Marabá, Gilvam Soares, traça um Raio X completo das carências do órgão e de todas as medidas que ele vem tentando tomar para melhorar a prestação de serviço ao usuário. Fala também a respeito das clínicas cadastradas para a realização de exames médicos em Marabá. Apenas duas funcionam, mas há pelo menos mais três que estão em fase de regularização. (Chagas Filho)