Correio de Carajás

Um jornal de muitas histórias

Minha trajetória no jornal Correio – antes, do Tocantins; hoje, de Carajás – sempre foi encarada como um enriquecedor desafio profissional. E disso é testemunha Mascarenhas Carvalho, o homem que o fundou e dirigiu por mais de duas décadas. Não era fácil produzir e editar um jornal que, com notícias de Marabá e de todo o sul e sudeste paraense, tinha seu espelho gráfico e impressão na capital, Belém.

Aí, louvo, mais uma vez, a coragem obsessiva e a perseverança do Mascarenhas. Afinal, é de gente assim que se fez e se faz a verdadeira imprensa no mundo. Mascarenhas trazia para Belém as matérias datilografadas e as fotografias.

Eu também escrevia algumas, mas a minha missão principal, como editor, era enquadrá-las na linguagem redacional e, tendo ao meu lado, um diagramador, dar ao jornal a cara que ele teria depois de impresso. Problemas de última hora sempre surgiam, como de hábito até nos dias de hoje, de facilidades tecnológicas. No final, porém, tudo dava certo.

Leia mais:

E cada edição que circulava em Marabá e região era um tijolo a mais colocado na obra de transformar o Correio naquilo que, respeitando-se cada período de sua história ao longo desses 35 anos, o jornal nunca deixou de ser: o porta-voz dos anseios da população de todos os municípios por onde ele circula.

Os fatos marcantes ocorridos na região, a partir de 1983, nunca deixaram de ter a cobertura do jornal e estão registrados nas suas edições, disponíveis para consulta na Casa da Cultura, em Marabá. No apogeu do garimpo de Serra Pelada, onde mais de 100 mil homens buscaram o sonho da fortuna – embora a imensa maioria tenha encontrado apenas o pesadelo da frustração -, lá estava o Correio, com suas reportagens exclusivas, algumas vezes reproduzidas pela imprensa de Belém.

Acompanhamos desde “bamburrados”, derramando dinheiro e ouro nos braços de prostitutas, em bares e cabarés de Marabá e do “km 30”, hoje Curionópolis, até “blefados” sem nenhum tostão no bolso que arrumavam a mala da desilusão para retornar às cidades distantes de onde tinham vindo. Noticiamos quedas de barrancos e mortes de garimpeiros soterrados sob chuvas intensas do inverno amazônico. Glória e fracasso caminhando lado a lado.

#ANUNCIO

Naquele ano de 1983, quando o Correio nasceu, Serra Pelada registrou a retirada de 14 toneladas de ouro. Três anos antes, um homem conhecido em Marabá por Genésio Ferreira da Silva, dono de lotes de terra na região, encontrou ouro ao cavar um buraco para fazer uma cerca. Rapidamente, o boato de que havia muito ouro transformou-se em realidade, atraindo multidão de garimpeiros e desempregados de várias partes do país, principalmente do Maranhão.

Tempo de Curió

Em pleno regime militar, o governo mandou para o garimpo o major Sebastião Moura, o “Curió”. Militar linha de frente na repressão à guerrilha do Araguaia, ele imprimiu uma forte disciplina, proibindo bebidas, mulheres e armas. E mais: todos os dias, às 6 da manhã em ponto, antes de procurar ouro, os garimpeiros, perfilados e em silêncio, tinham de acompanhar o descerramento da bandeira brasileira e ouvir o Hino Nacional.

Para aliviar a tensão diária do trabalho insano nos barrancos, e o vai-e-vem dos homens-formigas pelas encostas dos morro, com sacos de terra nas costas, “Curió” promoveu um show da stripper Rita Cadilac, que praticamente nua enlouqueceu os garimpeiros com seu corpaço e dança sensual. Cantores como Sérgio Reis e Raul Seixas também se apresentaram no garimpo, levando a multidão ao delírio. O Correio e sua equipe estavam na cobertura.

Maluco beleza foi andarilho pelas ruas da Velha Marabá

 

Raul Seixas pegou carona no carro do jornal em seu retorno do show na para Marabá Pioneira. Os repórteres do jornal divertiam-se com o “Maluco Beleza”, careta, perguntando a toda a hora onde tinha uma “boa maconha” na cidade. Ele mal dormiu no hotel onde estava hospedado. Sumiu nos becos da Velha Marabá atrás do que tanto procurava e só retornou ao hotel “de cabeça feita”, como declarou ao editor do jornal.

Histórias e estórias na vida de um jornal que testemunhou também o incremento da extração mineral de ferro pela então Vale do Rio Doce, colocando a economia do Pará entre as mais importantes do Brasil. O jornal chegou a cunhar a expressão “Marabá, terra do ferro, ouro e castanha”, para sinalizar as bandeiras do desenvolvimento da região. Sem esquecer das mazelas sociais que a migração desordenada em torno dos grandes projetos trouxeram consigo.

Da mesma forma, o Correio retratou a festa que foi a inauguração da ponte rodoferroviária sobre o rio Tocantins para facilitar o escoamento da produção mineral rumo ao porto de Itaqui, no Maranhão, assim como a aplicação do decreto federal da reforma agrária, durante o governo de José Sarney. Um decreto que provocou polêmica e muita disputa entre invasores de terras e fazendeiros dispostos a lutar pelo direito de propriedade. Violência que teve seu ápice na morte de 19 sem terra em Eldorado dos Carajás. As matéria do jornal correram o mundo, retratando o episódio.

Hoje, o Correio cresceu, modernizou-se, adquiriu novo visual, ampliando sua cobertura jornalística por toda a região. Um grande jornal não se faz apenas com bons profissionais na redação. Ele exige a ousadia de seus dirigentes. E nisso, sob o comando Wenderson Chamon, o Chamonzinho, o Correio tem se mantido no rumo que a sociedade paraense dele espera: um jornal independente, de confiança e credibilidade. 

SÍNTESE – Os fatos marcantes ocorridos na região, a partir de 1983, nunca deixaram de ter a cobertura do jornal e estão registrados nas suas edições, disponíveis para consulta na Casa da Cultura, em Marabá.

(Carlos Mendes)

Minha trajetória no jornal Correio – antes, do Tocantins; hoje, de Carajás – sempre foi encarada como um enriquecedor desafio profissional. E disso é testemunha Mascarenhas Carvalho, o homem que o fundou e dirigiu por mais de duas décadas. Não era fácil produzir e editar um jornal que, com notícias de Marabá e de todo o sul e sudeste paraense, tinha seu espelho gráfico e impressão na capital, Belém.

Aí, louvo, mais uma vez, a coragem obsessiva e a perseverança do Mascarenhas. Afinal, é de gente assim que se fez e se faz a verdadeira imprensa no mundo. Mascarenhas trazia para Belém as matérias datilografadas e as fotografias.

Eu também escrevia algumas, mas a minha missão principal, como editor, era enquadrá-las na linguagem redacional e, tendo ao meu lado, um diagramador, dar ao jornal a cara que ele teria depois de impresso. Problemas de última hora sempre surgiam, como de hábito até nos dias de hoje, de facilidades tecnológicas. No final, porém, tudo dava certo.

E cada edição que circulava em Marabá e região era um tijolo a mais colocado na obra de transformar o Correio naquilo que, respeitando-se cada período de sua história ao longo desses 35 anos, o jornal nunca deixou de ser: o porta-voz dos anseios da população de todos os municípios por onde ele circula.

Os fatos marcantes ocorridos na região, a partir de 1983, nunca deixaram de ter a cobertura do jornal e estão registrados nas suas edições, disponíveis para consulta na Casa da Cultura, em Marabá. No apogeu do garimpo de Serra Pelada, onde mais de 100 mil homens buscaram o sonho da fortuna – embora a imensa maioria tenha encontrado apenas o pesadelo da frustração -, lá estava o Correio, com suas reportagens exclusivas, algumas vezes reproduzidas pela imprensa de Belém.

Acompanhamos desde “bamburrados”, derramando dinheiro e ouro nos braços de prostitutas, em bares e cabarés de Marabá e do “km 30”, hoje Curionópolis, até “blefados” sem nenhum tostão no bolso que arrumavam a mala da desilusão para retornar às cidades distantes de onde tinham vindo. Noticiamos quedas de barrancos e mortes de garimpeiros soterrados sob chuvas intensas do inverno amazônico. Glória e fracasso caminhando lado a lado.

#ANUNCIO

Naquele ano de 1983, quando o Correio nasceu, Serra Pelada registrou a retirada de 14 toneladas de ouro. Três anos antes, um homem conhecido em Marabá por Genésio Ferreira da Silva, dono de lotes de terra na região, encontrou ouro ao cavar um buraco para fazer uma cerca. Rapidamente, o boato de que havia muito ouro transformou-se em realidade, atraindo multidão de garimpeiros e desempregados de várias partes do país, principalmente do Maranhão.

Tempo de Curió

Em pleno regime militar, o governo mandou para o garimpo o major Sebastião Moura, o “Curió”. Militar linha de frente na repressão à guerrilha do Araguaia, ele imprimiu uma forte disciplina, proibindo bebidas, mulheres e armas. E mais: todos os dias, às 6 da manhã em ponto, antes de procurar ouro, os garimpeiros, perfilados e em silêncio, tinham de acompanhar o descerramento da bandeira brasileira e ouvir o Hino Nacional.

Para aliviar a tensão diária do trabalho insano nos barrancos, e o vai-e-vem dos homens-formigas pelas encostas dos morro, com sacos de terra nas costas, “Curió” promoveu um show da stripper Rita Cadilac, que praticamente nua enlouqueceu os garimpeiros com seu corpaço e dança sensual. Cantores como Sérgio Reis e Raul Seixas também se apresentaram no garimpo, levando a multidão ao delírio. O Correio e sua equipe estavam na cobertura.

Maluco beleza foi andarilho pelas ruas da Velha Marabá

 

Raul Seixas pegou carona no carro do jornal em seu retorno do show na para Marabá Pioneira. Os repórteres do jornal divertiam-se com o “Maluco Beleza”, careta, perguntando a toda a hora onde tinha uma “boa maconha” na cidade. Ele mal dormiu no hotel onde estava hospedado. Sumiu nos becos da Velha Marabá atrás do que tanto procurava e só retornou ao hotel “de cabeça feita”, como declarou ao editor do jornal.

Histórias e estórias na vida de um jornal que testemunhou também o incremento da extração mineral de ferro pela então Vale do Rio Doce, colocando a economia do Pará entre as mais importantes do Brasil. O jornal chegou a cunhar a expressão “Marabá, terra do ferro, ouro e castanha”, para sinalizar as bandeiras do desenvolvimento da região. Sem esquecer das mazelas sociais que a migração desordenada em torno dos grandes projetos trouxeram consigo.

Da mesma forma, o Correio retratou a festa que foi a inauguração da ponte rodoferroviária sobre o rio Tocantins para facilitar o escoamento da produção mineral rumo ao porto de Itaqui, no Maranhão, assim como a aplicação do decreto federal da reforma agrária, durante o governo de José Sarney. Um decreto que provocou polêmica e muita disputa entre invasores de terras e fazendeiros dispostos a lutar pelo direito de propriedade. Violência que teve seu ápice na morte de 19 sem terra em Eldorado dos Carajás. As matéria do jornal correram o mundo, retratando o episódio.

Hoje, o Correio cresceu, modernizou-se, adquiriu novo visual, ampliando sua cobertura jornalística por toda a região. Um grande jornal não se faz apenas com bons profissionais na redação. Ele exige a ousadia de seus dirigentes. E nisso, sob o comando Wenderson Chamon, o Chamonzinho, o Correio tem se mantido no rumo que a sociedade paraense dele espera: um jornal independente, de confiança e credibilidade. 

SÍNTESE – Os fatos marcantes ocorridos na região, a partir de 1983, nunca deixaram de ter a cobertura do jornal e estão registrados nas suas edições, disponíveis para consulta na Casa da Cultura, em Marabá.

(Carlos Mendes)