Correio de Carajás

Três paraenses levam ferro nas costas

No acumulado deste ano, de janeiro a setembro, a Vale extraiu do Pará 116,38 milhões de toneladas (Mt) de minério de ferro (102,55 Mt na Serra Norte de Carajás, município de Parauapebas; 11,07 Mt na Serra Sul de Carajás, município de Canaã dos Carajás; e 2,76 Mt na Serra Leste de Carajás, município de Curionópolis).

Considerando-se apenas o terceiro trimestre, a Vale deve informar nesta quinta-feira (19) produção total no Pará de 38,91 Mt – ante 35,97 Mt produzidos no primeiro trimestre e 41,49 Mt no segundo trimestre deste ano. A informação é exclusiva da fanpage “Meu Parazão”, calculada a partir do cruzamento de dados do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Dificilmente, os valores que a empresa vai apresentar serão discrepantes, mesmo que a companhia tenha metodologia de cálculo própria.

A Vale agrupa a produção de seu minério de ferro nos municípios de Parauapebas, Canaã e Curionópolis como sendo “Sistema Norte”. Em 2016, a empresa extraiu desse complexo 148,12 Mt, dos quais 143,6 Mt saíram somente do município de Parauapebas. No ano passado, Canaã dos Carajás não apresentou carregamento comercial.

Leia mais:

A julgar pelo desempenho no trimestre encerrado em setembro, é provável que a produção de 2017 encerre em 160 Mt, uma vez que o último trimestre do ano é, tradicionalmente, o mais produtivo.

Vale recebe bônus nas costas do Pará

O minério de ferro é o principal produto da pauta de exportações do Pará, com participação de 53% sobre o total do valor apurado nas vendas de commodities saídas do estado. Nesta terça-feira (17), a tonelada do minério foi vendida, à vista, na China por 62,72 dólares — muito pouco se comparado a 15 de fevereiro de 2011, quando, naquele dia, chegou ao pico de 191,70 dólares, embora a cotação tenha encerrado o pregão em 188,90 dólares.

Mesmo com cotação em baixa atualmente, o minério saído do complexo minerador de Carajás, ou Sistema Norte de produção da Vale, tem fascínio que nenhum outro do mundo possui. Acontece que a sua cotação é feita considerando-se o teor comercial de 62%. Porém, como o produto que sai de Parauapebas, de Canaã e de Curionópolis possui teor superior a 65%, o minério vendido pela Vale nas costas desses municípios recebe bônus, e a empresa lucra caladinha.

O preço do ferro com 65% de concentração é negociado 22 dólares por tonelada acima do índice de 62%. Isto implica dizer que o prêmio para o minério do complexo de Carajás (66% de pureza) está em aproximadamente 30 dólares por tonelada (ou algo em torno de 7 dólares para cada 1% extra de concentração de ferro).

Minas de Pebas se esgotam em 17 anos

Tudo o que é bom dura pouco. Nos municípios da região de Carajás, que sobrevivem só, e somente só, de commodities minerais, ainda é delirante pensar que a indústria mineral durará muitos séculos ou mesmo pela eternidade. Esse é o maior papo furado ou a pior piada sem graça já contada à incauta população.

A Vale, que conhece bem o subsolo de boa parte do sudeste paraense, sabe quanto de minério de ferro há, onde há e até quando haverá, considerados fatores como seu ritmo de produção. E ela, anualmente, entrega prestação de contas à Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos, dando satisfação a investidores de suas operações no Brasil e no mundo, a fim de manter atualizados os riscos negociais.

Como a população paraense não gosta tampouco faz questão de gostar de ler e investigar sobre si mesma, a Vale avança sobre a leiguice de quase 8,5 milhões de habitantes em um estado que tem dependido, sobremaneira, da presença da empresa, seja ela mocinha ou vilã.

Este ano, no dia 10 de abril, a Vale entregou sua mais recente atualização sobre as minas de ferro, entre outras, localizadas no complexo de Carajás. Nenhuma novidade. O minério de Parauapebas vai acabar em duas décadas, e ponto.

Entre 2016 e 2017, a auditoria da empresa até prolongou a previsão de exaustão das reservas de Parauapebas em sete anos. E por um motivo curioso: ela incluiu pela primeira vez no relatório de 2017 as jazidas de N1, N2 e N3 — ainda não lavradas — no cálculo da estimativa de vida útil. Todavia, as atuais minas exploradas, N4W, N4E e N5, permanecem com previsão de exaustão para 2034 — daí para antes.

A empresa ainda tem jazidas nos corpos N7, N8 e N9, dentro do município de Parauapebas, mas a quantidade de minério nelas é tão pequena perante aos corpos de N4 e N5 que chega a ser duvidoso se o conjunto de “enes”, fora esses atualmente em lavra, têm viabilidade econômica.

No relatório entregue nos Estados Unidos este ano, a Vale apresentou na página 66 (ou folha 73) do documento a data provável de exaustão das reservas de ferro na Serra Norte, em Parauapebas: 2041. Ressalte-se, mais uma vez, que essa previsão inclui corpos (N1, N2, N3) ainda não explorados e que possui, em linguagem popular, pouco minério se comparado aos corpos de N4 e N5, atualmente trabalhados e que devem exaurir em, no mais tarda, 2034. O importante é ninguém pagar para ver o que ocorrerá quando a Vale gritar “Tô indo”.

Todo o minério de ferro mapeado pela multinacional em Parauapebas (em todos os “enes” reportados) tem, segundo ela mesma, 2,34 bilhões de toneladas, com teor médio de 66% de pureza. Como a Vale tirou 143 Mt de Parauapebas em 2016, se mantiver esse ritmo, o minério de ferro pode não sobreviver sequer a 2034 para contar história, que dirá 2041. Qualquer conta de boteco fecha a questão, para a qual a sociedade insiste em fazer vista grossa, mas que cobrará sua fatura socioeconômica, de maneira agressiva, num futuro que já não é mais distante da realidade atual.

A Vale está em cima de Parauapebas desde 1984. Quando acabar o minério desse município, ela não ficará desamparada. Vai arrepiar, com muito mais entusiasmo, pelas bandas de Canaã dos Carajás, que possui reserva medida, provada e provável de 4,22 bilhões de toneladas apenas nos blocos C e D do corpo S11 — quase o dobro do minério que ainda subsiste em Parauapebas; e ainda há blocos A e B. A previsão de esgotamento das reservas de Canaã é para 2049, mas deve ser alterada para depois disso no relatório do ano que vem, já que o start-up de S11D foi escalonado e o projeto só vai apresentar carga plena de produção em 2020.

Enquanto tudo isso segue acontecendo, o município de Parauapebas — maior produtor nacional de minério de ferro hoje — fica por aí, sentando, dando milho aos pombos. Uma lástima. (André Santos – Meu Parazão ) 

No acumulado deste ano, de janeiro a setembro, a Vale extraiu do Pará 116,38 milhões de toneladas (Mt) de minério de ferro (102,55 Mt na Serra Norte de Carajás, município de Parauapebas; 11,07 Mt na Serra Sul de Carajás, município de Canaã dos Carajás; e 2,76 Mt na Serra Leste de Carajás, município de Curionópolis).

Considerando-se apenas o terceiro trimestre, a Vale deve informar nesta quinta-feira (19) produção total no Pará de 38,91 Mt – ante 35,97 Mt produzidos no primeiro trimestre e 41,49 Mt no segundo trimestre deste ano. A informação é exclusiva da fanpage “Meu Parazão”, calculada a partir do cruzamento de dados do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Dificilmente, os valores que a empresa vai apresentar serão discrepantes, mesmo que a companhia tenha metodologia de cálculo própria.

A Vale agrupa a produção de seu minério de ferro nos municípios de Parauapebas, Canaã e Curionópolis como sendo “Sistema Norte”. Em 2016, a empresa extraiu desse complexo 148,12 Mt, dos quais 143,6 Mt saíram somente do município de Parauapebas. No ano passado, Canaã dos Carajás não apresentou carregamento comercial.

A julgar pelo desempenho no trimestre encerrado em setembro, é provável que a produção de 2017 encerre em 160 Mt, uma vez que o último trimestre do ano é, tradicionalmente, o mais produtivo.

Vale recebe bônus nas costas do Pará

O minério de ferro é o principal produto da pauta de exportações do Pará, com participação de 53% sobre o total do valor apurado nas vendas de commodities saídas do estado. Nesta terça-feira (17), a tonelada do minério foi vendida, à vista, na China por 62,72 dólares — muito pouco se comparado a 15 de fevereiro de 2011, quando, naquele dia, chegou ao pico de 191,70 dólares, embora a cotação tenha encerrado o pregão em 188,90 dólares.

Mesmo com cotação em baixa atualmente, o minério saído do complexo minerador de Carajás, ou Sistema Norte de produção da Vale, tem fascínio que nenhum outro do mundo possui. Acontece que a sua cotação é feita considerando-se o teor comercial de 62%. Porém, como o produto que sai de Parauapebas, de Canaã e de Curionópolis possui teor superior a 65%, o minério vendido pela Vale nas costas desses municípios recebe bônus, e a empresa lucra caladinha.

O preço do ferro com 65% de concentração é negociado 22 dólares por tonelada acima do índice de 62%. Isto implica dizer que o prêmio para o minério do complexo de Carajás (66% de pureza) está em aproximadamente 30 dólares por tonelada (ou algo em torno de 7 dólares para cada 1% extra de concentração de ferro).

Minas de Pebas se esgotam em 17 anos

Tudo o que é bom dura pouco. Nos municípios da região de Carajás, que sobrevivem só, e somente só, de commodities minerais, ainda é delirante pensar que a indústria mineral durará muitos séculos ou mesmo pela eternidade. Esse é o maior papo furado ou a pior piada sem graça já contada à incauta população.

A Vale, que conhece bem o subsolo de boa parte do sudeste paraense, sabe quanto de minério de ferro há, onde há e até quando haverá, considerados fatores como seu ritmo de produção. E ela, anualmente, entrega prestação de contas à Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos, dando satisfação a investidores de suas operações no Brasil e no mundo, a fim de manter atualizados os riscos negociais.

Como a população paraense não gosta tampouco faz questão de gostar de ler e investigar sobre si mesma, a Vale avança sobre a leiguice de quase 8,5 milhões de habitantes em um estado que tem dependido, sobremaneira, da presença da empresa, seja ela mocinha ou vilã.

Este ano, no dia 10 de abril, a Vale entregou sua mais recente atualização sobre as minas de ferro, entre outras, localizadas no complexo de Carajás. Nenhuma novidade. O minério de Parauapebas vai acabar em duas décadas, e ponto.

Entre 2016 e 2017, a auditoria da empresa até prolongou a previsão de exaustão das reservas de Parauapebas em sete anos. E por um motivo curioso: ela incluiu pela primeira vez no relatório de 2017 as jazidas de N1, N2 e N3 — ainda não lavradas — no cálculo da estimativa de vida útil. Todavia, as atuais minas exploradas, N4W, N4E e N5, permanecem com previsão de exaustão para 2034 — daí para antes.

A empresa ainda tem jazidas nos corpos N7, N8 e N9, dentro do município de Parauapebas, mas a quantidade de minério nelas é tão pequena perante aos corpos de N4 e N5 que chega a ser duvidoso se o conjunto de “enes”, fora esses atualmente em lavra, têm viabilidade econômica.

No relatório entregue nos Estados Unidos este ano, a Vale apresentou na página 66 (ou folha 73) do documento a data provável de exaustão das reservas de ferro na Serra Norte, em Parauapebas: 2041. Ressalte-se, mais uma vez, que essa previsão inclui corpos (N1, N2, N3) ainda não explorados e que possui, em linguagem popular, pouco minério se comparado aos corpos de N4 e N5, atualmente trabalhados e que devem exaurir em, no mais tarda, 2034. O importante é ninguém pagar para ver o que ocorrerá quando a Vale gritar “Tô indo”.

Todo o minério de ferro mapeado pela multinacional em Parauapebas (em todos os “enes” reportados) tem, segundo ela mesma, 2,34 bilhões de toneladas, com teor médio de 66% de pureza. Como a Vale tirou 143 Mt de Parauapebas em 2016, se mantiver esse ritmo, o minério de ferro pode não sobreviver sequer a 2034 para contar história, que dirá 2041. Qualquer conta de boteco fecha a questão, para a qual a sociedade insiste em fazer vista grossa, mas que cobrará sua fatura socioeconômica, de maneira agressiva, num futuro que já não é mais distante da realidade atual.

A Vale está em cima de Parauapebas desde 1984. Quando acabar o minério desse município, ela não ficará desamparada. Vai arrepiar, com muito mais entusiasmo, pelas bandas de Canaã dos Carajás, que possui reserva medida, provada e provável de 4,22 bilhões de toneladas apenas nos blocos C e D do corpo S11 — quase o dobro do minério que ainda subsiste em Parauapebas; e ainda há blocos A e B. A previsão de esgotamento das reservas de Canaã é para 2049, mas deve ser alterada para depois disso no relatório do ano que vem, já que o start-up de S11D foi escalonado e o projeto só vai apresentar carga plena de produção em 2020.

Enquanto tudo isso segue acontecendo, o município de Parauapebas — maior produtor nacional de minério de ferro hoje — fica por aí, sentando, dando milho aos pombos. Uma lástima. (André Santos – Meu Parazão )