Correio de Carajás

Os novos donos da rua

Enquanto se acostuma com a ideia da aposentadoria, o corredor Fabiano Gomes, 40 anos de idade, vai treinando uma nova geração de atletas de alto desempenho que já estão vencendo competições e se destacando até mesmo fora do Pará.

Vencedor da Corrida do Círio de 2009, Fabiano pode não pendurar o tênis tão cedo. Nascido em Jacundá e atualmente vivendo em Marabá, onde está se formando em Educação Física, o corredor agora pretende se dedicar a formar novos atletas de alto rendimento na mesma modalidade que o consagrou.

Há aproximadamente três meses, ele fundou a Associação Atlética Fabiano Gomes (AAFG). “É um projeto social e profissional ao mesmo tempo porque oriento essas pessoas e não cobro nada, é gratuito. Aqueles que percebo terem talento, que querem se tornar profissionais, a gente vai fazendo trabalho específico. Já temos três atletas de alto rendimento de Marabá, que consegui lapidar e que estão nos representando. Também há um grupo de atletas amadores”, explica.

Leia mais:

Entre as atletas de alto rendimento está Ione Vieira Guedes, 20 anos, natural de Marabá. Antes de conhecer Fabiano ela já corria, mas em pista e não na rua. “Eu era velocista. Corria meio fundo. Virei fundista e corredora de rua, agora faço 7 e 10 quilômetros”, afirmou, acrescentando que a mudança fez bastante diferença em sua trajetória esportiva.

No ano passado, ela foi a vencedora da Corrida do Aço, prova que acontece novamente neste final de semana, patrocinada pela Sinobras. “Foi uma das minhas primeiras corridas, logo que comecei a treinar com ele (Fabiano). Já ganhei várias depois dessa, da Unopar, da OAB, uma em Parauapebas. A maioria de 7 quilômetros”, conta a jovem que marcou 27’54” como melhor tempo e pretende bater a marca na corrida de domingo.

TRAJETÓRIA

A ideia de fundação da associação veio após mais de 20 anos de experiência em corridas de rua que Fabiano Gomes carrega nos ombros. Ainda adolescente, ele jogava futebol em Jacundá, a 115 quilômetros de Marabá. A bola o ligou ao esporte, que o levou à corrida. “Como futebol tem que começar bem cedo e eu já tinha uma idade mais avançada, entrei no atletismo vendo os caras correndo São Silvestre, em São Paulo”.

Em 1997, o brasileiro Emerson Iser Bemt venceu a prova, batendo o então favorito, recordista da prova e, na época bicampeão, o queniano Paul Tergat. No ano seguinte, 1998, próximo à época da São Silvestre, a televisão só falava disso. “O canal que transmite o evento só falava do Emerson e aí eu vendo o programa de esportes, fiquei pensando ‘serei isso aí, vou treinar e praticar’”, relembra.

Em 1999 iniciou a carreira correndo na própria São Silvestre. Ao retornar para Jacundá, o prefeito da época o levou até a Federação Paraense de Atletismo e o “federou”. Em 2000, ele passou a correr competições de rua. “Em 2001, com 21 anos, me destaquei. Fiquei entre os três primeiros em uma corrida e quis dar continuidade à carreira, vi que tinha futuro. Tinha parentes em São Paulo e decidi mudar para lá e procurar recursos e me transformar em um atleta de alto rendimento”.

Cinco anos depois, Fabiano retornou ao Pará, desta vez se estabelecendo em Belém. “Morei seis anos em Belém e nessas idas e vindas saía e retornava para SP para fazer base de treinamento. Em uma delas, nesse treinamento, em 2009, me consagrei o paraense campeão da corrida do Círio, de Belém do Pará, diz, orgulhoso.

PROJETO

Com a proximidade da aposentadoria, começava a amadurecer na cabeça do atleta a ideia de manter um projeto em atletismo. “Conversei com o presidente da Federação e perguntei como fazer isso de forma oficial, repassar esse meu conhecimento para os meninos. Ele explicou que eu deveria abrir um clube, registrar ele e unir os atletas, registrar eles na Federação e pronto”.

Assim nasceu a AAFG, oficialmente um clube de atletismo regular. “Não é fácil porque toda associação vive de doação, de patrocínio para custear as despesas destes atletas, mas ao longo do trabalho estamos conseguindo. Estamos engatinhando, estamos no início”, afirma. Atualmente, os atletas treinam a corrida de rua na Orla Sebastião Miranda, na Marabá Pioneira, e no Residencial Cidade Jardim.

Para os treinos de ‘tiros’, que são os trabalhos de velocidade, é utilizada a pista do Lar Fabiano de Cristo. “É interessante que tenhamos uma pista oficial de atletismo. Não vamos deixar de treinar se a cidade não tiver essa estrutura, mas Marabá tem esse centro em uma ONG (Organização Não Governamental) que é mantida por empresa mineradora da região. Fiz um ofício – como presidente da associação – e fomos muito bem atendidos pelo pessoal que cedeu o espaço para nós. Fica no Bairro São Félix e é um dos lugares em que treinamos”, explica.

Atualmente com 40 anos, o atleta percebe que é hora de desacelerar. “A gente começa a perder velocidade. Continuo com a mesma resistência, mas já não tenho mais a velocidade, aquela pegada de arranque que os caras mais novos têm”.

Quando questionado quantos troféus acumula, Fabiano é rápido em dizer que não tem ideia. “Preciso contar em casa”, brinca. Ele alcançou posições de destaque em grandes competições. Além da Corrida do Círio, foi o oitavo colocado geral e quinto brasileiro na Maratona Internacional de São Paulo. Também ganhou a medalha de ouro no Campeonato Norte e Nordeste de Pista, em Recife, correndo 10 mil metros, e medalha de bronze na prova de 5 mil metros. É vice-campeão da Meia Maratona de Fortaleza e bicampeão da Meia Maratona de São Luís. Citando apenas algumas conquistas.

Por fim, Fabiano decidiu se estabelecer em Marabá para cursar Educação Física, um sonho, e ter estrutura para continuar treinando. “Eu precisava concluir meus estudos e estava me preparando para o final de carreira, precisava estudar. Como sou do ramo não tem outro curso que não seja Educação Física. Escolhi Marabá porque eu precisava de um local que tivesse bom acesso para treinamento e também ao estudo, faculdade, aqui encontrei os dois. Não estou arrependido, amo Marabá e no estado do Pará se eu precisar escolher um lugar para morar vai ser ou em Marabá ou em Belém”.

Por fim, Fabiano Gomes diz que há ao menos 15 pessoas em treinamento, com apoio da Farma Fórmula, da Fisio+ e da nutricionista Nanda Rocha. “Em Marabá as premiações são pequenas. A OAB, que paga melhor, oferece R$ 600, R$ 300 e R$ 200 para os três primeiros colocados, respectivamente. A Corrida do Aço, no próximo domingo, pagará R$ 500, R$ 300 e R$ 200. É um valor simbólico. Ainda não temos a cultura de valorizar o atleta profissional no quesito premiação, mas é uma questão que vai evoluir”, finaliza.

 “Como não me aceitam, vou correr na pipoca”

 Caçula da equipe de Fabiano Gomes, Iara Priscila Lima de Oliveira Rosa, de 16 anos, segue os mesmos passos da colega Ione. Mas ela ainda é barrada em muitas competições porque os regulamentos estipulam idade mínima de 18 anos para participação. Apesar disso, ela treina pesado. “Já corri em Belém, Canaã dos Carajás, Parauapebas, Goianésia e Jacundá, além de Marabá. Eu morava em Jacundá, era jogadora de futebol, de um time, meu treinador viu que eu era veloz no campo, jogava como lateral, e me colocou em uma corrida. Fiquei em terceiro lugar em 2014”, conta.

De lá, ela foi levada para uma corrida de rua em Canaã dos Carajás, onde conheceu Fabiano Gomes. “A gente foi se conhecendo. Depois disso começamos a conversar pelo WhatsApp.  Ele começou a falar das corridas para mim e que eu não podia ficar forçando muito porque eu era muito nova, então me passou treinos e depois eu vim para Marabá. Estou aqui para treinar mesmo, mas continuo estudando. Treino de amanhã, antes da aula”, conta a adolescente que cursa o primeiro ano do ensino médio na Escola Estadual Gaspar Vianna.

No próximo dia 13 ela embarca para Brasília, onde irá representar a instituição nos Jogos Estudantis Brasileiros. Sobre não poder competir em todas as corridas de rua, ela diz se sentir frustrada, mas isso não a desanima. “Algumas não permitem e claro que fico triste porque treino para a corrida, mas estou focada e se aparecer algo estarei preparada. Domingo, como não deixaram eu me inscrever, vou correr na pipoca, avisa Iara”. (Luciana Marschall e Ulisses Pompeu)

Enquanto se acostuma com a ideia da aposentadoria, o corredor Fabiano Gomes, 40 anos de idade, vai treinando uma nova geração de atletas de alto desempenho que já estão vencendo competições e se destacando até mesmo fora do Pará.

Vencedor da Corrida do Círio de 2009, Fabiano pode não pendurar o tênis tão cedo. Nascido em Jacundá e atualmente vivendo em Marabá, onde está se formando em Educação Física, o corredor agora pretende se dedicar a formar novos atletas de alto rendimento na mesma modalidade que o consagrou.

Há aproximadamente três meses, ele fundou a Associação Atlética Fabiano Gomes (AAFG). “É um projeto social e profissional ao mesmo tempo porque oriento essas pessoas e não cobro nada, é gratuito. Aqueles que percebo terem talento, que querem se tornar profissionais, a gente vai fazendo trabalho específico. Já temos três atletas de alto rendimento de Marabá, que consegui lapidar e que estão nos representando. Também há um grupo de atletas amadores”, explica.

Entre as atletas de alto rendimento está Ione Vieira Guedes, 20 anos, natural de Marabá. Antes de conhecer Fabiano ela já corria, mas em pista e não na rua. “Eu era velocista. Corria meio fundo. Virei fundista e corredora de rua, agora faço 7 e 10 quilômetros”, afirmou, acrescentando que a mudança fez bastante diferença em sua trajetória esportiva.

No ano passado, ela foi a vencedora da Corrida do Aço, prova que acontece novamente neste final de semana, patrocinada pela Sinobras. “Foi uma das minhas primeiras corridas, logo que comecei a treinar com ele (Fabiano). Já ganhei várias depois dessa, da Unopar, da OAB, uma em Parauapebas. A maioria de 7 quilômetros”, conta a jovem que marcou 27’54” como melhor tempo e pretende bater a marca na corrida de domingo.

TRAJETÓRIA

A ideia de fundação da associação veio após mais de 20 anos de experiência em corridas de rua que Fabiano Gomes carrega nos ombros. Ainda adolescente, ele jogava futebol em Jacundá, a 115 quilômetros de Marabá. A bola o ligou ao esporte, que o levou à corrida. “Como futebol tem que começar bem cedo e eu já tinha uma idade mais avançada, entrei no atletismo vendo os caras correndo São Silvestre, em São Paulo”.

Em 1997, o brasileiro Emerson Iser Bemt venceu a prova, batendo o então favorito, recordista da prova e, na época bicampeão, o queniano Paul Tergat. No ano seguinte, 1998, próximo à época da São Silvestre, a televisão só falava disso. “O canal que transmite o evento só falava do Emerson e aí eu vendo o programa de esportes, fiquei pensando ‘serei isso aí, vou treinar e praticar’”, relembra.

Em 1999 iniciou a carreira correndo na própria São Silvestre. Ao retornar para Jacundá, o prefeito da época o levou até a Federação Paraense de Atletismo e o “federou”. Em 2000, ele passou a correr competições de rua. “Em 2001, com 21 anos, me destaquei. Fiquei entre os três primeiros em uma corrida e quis dar continuidade à carreira, vi que tinha futuro. Tinha parentes em São Paulo e decidi mudar para lá e procurar recursos e me transformar em um atleta de alto rendimento”.

Cinco anos depois, Fabiano retornou ao Pará, desta vez se estabelecendo em Belém. “Morei seis anos em Belém e nessas idas e vindas saía e retornava para SP para fazer base de treinamento. Em uma delas, nesse treinamento, em 2009, me consagrei o paraense campeão da corrida do Círio, de Belém do Pará, diz, orgulhoso.

PROJETO

Com a proximidade da aposentadoria, começava a amadurecer na cabeça do atleta a ideia de manter um projeto em atletismo. “Conversei com o presidente da Federação e perguntei como fazer isso de forma oficial, repassar esse meu conhecimento para os meninos. Ele explicou que eu deveria abrir um clube, registrar ele e unir os atletas, registrar eles na Federação e pronto”.

Assim nasceu a AAFG, oficialmente um clube de atletismo regular. “Não é fácil porque toda associação vive de doação, de patrocínio para custear as despesas destes atletas, mas ao longo do trabalho estamos conseguindo. Estamos engatinhando, estamos no início”, afirma. Atualmente, os atletas treinam a corrida de rua na Orla Sebastião Miranda, na Marabá Pioneira, e no Residencial Cidade Jardim.

Para os treinos de ‘tiros’, que são os trabalhos de velocidade, é utilizada a pista do Lar Fabiano de Cristo. “É interessante que tenhamos uma pista oficial de atletismo. Não vamos deixar de treinar se a cidade não tiver essa estrutura, mas Marabá tem esse centro em uma ONG (Organização Não Governamental) que é mantida por empresa mineradora da região. Fiz um ofício – como presidente da associação – e fomos muito bem atendidos pelo pessoal que cedeu o espaço para nós. Fica no Bairro São Félix e é um dos lugares em que treinamos”, explica.

Atualmente com 40 anos, o atleta percebe que é hora de desacelerar. “A gente começa a perder velocidade. Continuo com a mesma resistência, mas já não tenho mais a velocidade, aquela pegada de arranque que os caras mais novos têm”.

Quando questionado quantos troféus acumula, Fabiano é rápido em dizer que não tem ideia. “Preciso contar em casa”, brinca. Ele alcançou posições de destaque em grandes competições. Além da Corrida do Círio, foi o oitavo colocado geral e quinto brasileiro na Maratona Internacional de São Paulo. Também ganhou a medalha de ouro no Campeonato Norte e Nordeste de Pista, em Recife, correndo 10 mil metros, e medalha de bronze na prova de 5 mil metros. É vice-campeão da Meia Maratona de Fortaleza e bicampeão da Meia Maratona de São Luís. Citando apenas algumas conquistas.

Por fim, Fabiano decidiu se estabelecer em Marabá para cursar Educação Física, um sonho, e ter estrutura para continuar treinando. “Eu precisava concluir meus estudos e estava me preparando para o final de carreira, precisava estudar. Como sou do ramo não tem outro curso que não seja Educação Física. Escolhi Marabá porque eu precisava de um local que tivesse bom acesso para treinamento e também ao estudo, faculdade, aqui encontrei os dois. Não estou arrependido, amo Marabá e no estado do Pará se eu precisar escolher um lugar para morar vai ser ou em Marabá ou em Belém”.

Por fim, Fabiano Gomes diz que há ao menos 15 pessoas em treinamento, com apoio da Farma Fórmula, da Fisio+ e da nutricionista Nanda Rocha. “Em Marabá as premiações são pequenas. A OAB, que paga melhor, oferece R$ 600, R$ 300 e R$ 200 para os três primeiros colocados, respectivamente. A Corrida do Aço, no próximo domingo, pagará R$ 500, R$ 300 e R$ 200. É um valor simbólico. Ainda não temos a cultura de valorizar o atleta profissional no quesito premiação, mas é uma questão que vai evoluir”, finaliza.

 “Como não me aceitam, vou correr na pipoca”

 Caçula da equipe de Fabiano Gomes, Iara Priscila Lima de Oliveira Rosa, de 16 anos, segue os mesmos passos da colega Ione. Mas ela ainda é barrada em muitas competições porque os regulamentos estipulam idade mínima de 18 anos para participação. Apesar disso, ela treina pesado. “Já corri em Belém, Canaã dos Carajás, Parauapebas, Goianésia e Jacundá, além de Marabá. Eu morava em Jacundá, era jogadora de futebol, de um time, meu treinador viu que eu era veloz no campo, jogava como lateral, e me colocou em uma corrida. Fiquei em terceiro lugar em 2014”, conta.

De lá, ela foi levada para uma corrida de rua em Canaã dos Carajás, onde conheceu Fabiano Gomes. “A gente foi se conhecendo. Depois disso começamos a conversar pelo WhatsApp.  Ele começou a falar das corridas para mim e que eu não podia ficar forçando muito porque eu era muito nova, então me passou treinos e depois eu vim para Marabá. Estou aqui para treinar mesmo, mas continuo estudando. Treino de amanhã, antes da aula”, conta a adolescente que cursa o primeiro ano do ensino médio na Escola Estadual Gaspar Vianna.

No próximo dia 13 ela embarca para Brasília, onde irá representar a instituição nos Jogos Estudantis Brasileiros. Sobre não poder competir em todas as corridas de rua, ela diz se sentir frustrada, mas isso não a desanima. “Algumas não permitem e claro que fico triste porque treino para a corrida, mas estou focada e se aparecer algo estarei preparada. Domingo, como não deixaram eu me inscrever, vou correr na pipoca, avisa Iara”. (Luciana Marschall e Ulisses Pompeu)