Correio de Carajás

Coco Babaçu: Atividade corre risco de acabar

Para debater direitos e políticas públicas nas comunidades tradicionais, o Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu do Maranhão, Pará, Piauí e Tocantins se reuniu com dezenas de mulheres de municípios da região na semana passada. Denominado Seminário de Regularização Fundiária e Autonomia Territorial, o encontro aconteceu em São Domingos do Araguaia, com a presença de lideranças regionais e estaduais da entidade, e expôs a realidade de quem vive da atividade no Pará.

“O movimento atua há mais de 25 anos com o intuito de trabalhar essa questão da organização e da luta por terra e território para a sobrevivência dessas mulheres”, conta Francisca da Silva Nascimento, coordenadora geral do movimento nos quatro estados e moradora de uma comunidade tradicional no Piauí. Segundo ela, nesses dias de visita à região, foi possível perceber as principais dificuldades vividas pelas quebradeiras de coco babaçu em estados como o Pará.

“Como a questão das cercas, da venda do coco inteiro, envenenamento, derrubada das palmeiras e como essas mulheres deixam de ter acesso ao babaçu, porque a maioria das plantas está nas fazendas e os proprietários não deixam que elas entrem nas terras e tirem a fruta para que desenvolvam a atividade”, revela, esclarecendo que da amêndoa do coco, as quebradeiras conseguem produzir, além do azeite, farinha, artesanato e carvão. “Além do mais, a venda desses produtos complementa a renda de muitas famílias, sem contar que as mulheres também prezam pela preservação da floresta de babaçu, que estão cada vez mais escassas e correm o risco de desaparecer”, compleata.

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Com o objetivo de mudar essa realidade, o movimento quer que em cada estado seja criada uma lei que garanta o livre acesso aos babaçuais, além de apoio e incentivo governamental para que a produção dessas mulheres chegue até o mercado. “A gente tem uma cooperativa que promove essa comercialização, e ainda é muito local. Mas nós queremos fazer com que esses produtos também entrem nas políticas públicas”, defende, dizendo que existem muitos entraves para que essa produção chegue às escolas como merenda escolar, por exemplo, porque não se encaixa nos padrões exigidos pela vigilância sanitária.

“Mas, o que o estado e o município estão fazendo para que essas mulheres tenham produtos adequados para colocar no Programa Nacional de Alimentação Escolar e até no mercado?”, pergunta Francisca. Representantes do MIQCB também estiveram na sede do Ministério Público Federal para denunciar a derrubada, queimada, envenenamento e devastação das palmeiras. “Uma palmeira a gente considera como uma mãe, a vida de uma palmeira é como de uma mulher. Ela começa a brotar a partir de 15 anos, leva nove meses um cacho de coco para cair, então é uma gestação”, diz.

Tradição

Aos 11 anos de idade, Jucileia Rodrigues de Sousa, conhecida como Branca, começou a trabalhar como quebradeira de coco babaçu, seguindo os passos da mãe. No entanto, hoje, a moradora de Brejo Grande do Araguaia, espera que o trabalho se torne mais fácil na região. “Hoje, eu fico muito triste de saber que o nosso sustento está sendo destruído pelo homem. Porque estão derrubando as palmeiras, envenenando, queimando os cocos inteiros. Do jeito que está indo, daqui a uns dias não vai ter mais babaçu e a gente vai sobreviver de que?”, indaga. Ela conta que não tem muito apoio de órgãos públicos, nem para fazer denúncias contra o desmatamento.

Movimento

Desde que foi fundando, há 25 anos, o Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu do Maranhão, Pará, Piauí e Tocantins possui hoje mais de 300 mil mulheres registradas. Surgiu a partir do primeiro Encontro Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu, em São Luís, em 1991, resultando na criação da Articulação das Mulheres Quebradeiras de Coco Babaçu. Em 1995, no II Encontro Interestadual, o nome da instituição mudou para Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu – MIQCB.

Saiba Mais – “Uma palmeira a gente considera como uma mãe, a vida de uma palmeira é como de uma mulher. Ela começa a brotar a partir de 15 anos, leva nove meses um cacho de coco para cair, então é uma gestação”. (Francisca da Silva Nascimento, coordenadora geral do movimento).

(Nathália Viegas)

 

Para debater direitos e políticas públicas nas comunidades tradicionais, o Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu do Maranhão, Pará, Piauí e Tocantins se reuniu com dezenas de mulheres de municípios da região na semana passada. Denominado Seminário de Regularização Fundiária e Autonomia Territorial, o encontro aconteceu em São Domingos do Araguaia, com a presença de lideranças regionais e estaduais da entidade, e expôs a realidade de quem vive da atividade no Pará.

“O movimento atua há mais de 25 anos com o intuito de trabalhar essa questão da organização e da luta por terra e território para a sobrevivência dessas mulheres”, conta Francisca da Silva Nascimento, coordenadora geral do movimento nos quatro estados e moradora de uma comunidade tradicional no Piauí. Segundo ela, nesses dias de visita à região, foi possível perceber as principais dificuldades vividas pelas quebradeiras de coco babaçu em estados como o Pará.

“Como a questão das cercas, da venda do coco inteiro, envenenamento, derrubada das palmeiras e como essas mulheres deixam de ter acesso ao babaçu, porque a maioria das plantas está nas fazendas e os proprietários não deixam que elas entrem nas terras e tirem a fruta para que desenvolvam a atividade”, revela, esclarecendo que da amêndoa do coco, as quebradeiras conseguem produzir, além do azeite, farinha, artesanato e carvão. “Além do mais, a venda desses produtos complementa a renda de muitas famílias, sem contar que as mulheres também prezam pela preservação da floresta de babaçu, que estão cada vez mais escassas e correm o risco de desaparecer”, compleata.

Com o objetivo de mudar essa realidade, o movimento quer que em cada estado seja criada uma lei que garanta o livre acesso aos babaçuais, além de apoio e incentivo governamental para que a produção dessas mulheres chegue até o mercado. “A gente tem uma cooperativa que promove essa comercialização, e ainda é muito local. Mas nós queremos fazer com que esses produtos também entrem nas políticas públicas”, defende, dizendo que existem muitos entraves para que essa produção chegue às escolas como merenda escolar, por exemplo, porque não se encaixa nos padrões exigidos pela vigilância sanitária.

“Mas, o que o estado e o município estão fazendo para que essas mulheres tenham produtos adequados para colocar no Programa Nacional de Alimentação Escolar e até no mercado?”, pergunta Francisca. Representantes do MIQCB também estiveram na sede do Ministério Público Federal para denunciar a derrubada, queimada, envenenamento e devastação das palmeiras. “Uma palmeira a gente considera como uma mãe, a vida de uma palmeira é como de uma mulher. Ela começa a brotar a partir de 15 anos, leva nove meses um cacho de coco para cair, então é uma gestação”, diz.

Tradição

Aos 11 anos de idade, Jucileia Rodrigues de Sousa, conhecida como Branca, começou a trabalhar como quebradeira de coco babaçu, seguindo os passos da mãe. No entanto, hoje, a moradora de Brejo Grande do Araguaia, espera que o trabalho se torne mais fácil na região. “Hoje, eu fico muito triste de saber que o nosso sustento está sendo destruído pelo homem. Porque estão derrubando as palmeiras, envenenando, queimando os cocos inteiros. Do jeito que está indo, daqui a uns dias não vai ter mais babaçu e a gente vai sobreviver de que?”, indaga. Ela conta que não tem muito apoio de órgãos públicos, nem para fazer denúncias contra o desmatamento.

Movimento

Desde que foi fundando, há 25 anos, o Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu do Maranhão, Pará, Piauí e Tocantins possui hoje mais de 300 mil mulheres registradas. Surgiu a partir do primeiro Encontro Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu, em São Luís, em 1991, resultando na criação da Articulação das Mulheres Quebradeiras de Coco Babaçu. Em 1995, no II Encontro Interestadual, o nome da instituição mudou para Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu – MIQCB.

Saiba Mais – “Uma palmeira a gente considera como uma mãe, a vida de uma palmeira é como de uma mulher. Ela começa a brotar a partir de 15 anos, leva nove meses um cacho de coco para cair, então é uma gestação”. (Francisca da Silva Nascimento, coordenadora geral do movimento).

(Nathália Viegas)