Correio de Carajás

Boletim todo azul e eu fora da prova final

Coisas da escola. Quem passava por média em todas as matérias recebia o boletim na classe e ficava até mesmo desobrigado de fazer a prova final. Apenas uma vez na vida consegui essa façanha. Para os demais, os pais tinham de ir à escola ver as “bombas” e ouvir reclamações das professoras sobre a gente.

De uma turma de 30 alunos, uns sete garantiam o título de inteligente. Os outros ficavam por ali, cara mexendo, pensando na morte da bezerra ou de Inês. Estavam de recuperação e por isso não tinha direito a reconhecimento público. Jeito míope da escola enxergar e construir o mundo. Constrangimento geral, até mesmo pra quem era padronizado de ‘inteligente’. Era tudo ou nada. E não adiantava ter ficado em uma só matéria por meio pontinho. Babau.

Pra escola, o aluno era medíocre ou bom quando conseguia ficar entre sete e oito e meio. Nove era ótimo e dez excelente. Cinco e seis, regular. Quatro pra baixo, insuficiente. Esses estavam lascados e geralmente não mereciam a atenção de professores e sabichões. Sem contar com as ladainhas domésticas. Ameaçavam não deixar ir pro meio da rua, nada de praia, matinê no Cine Marrocos ou assistir jogo do Clube Atlético Marabá no Zinho Oliveira.

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Isso no meio do ano, porque se era dezembro, corria o risco de perder o presente de Natal. Dava pra aguentar tudo, menos ficar sem poder jogar futebol com os colegas lá no Granito.

Mas voltando à sala de aula. Gênios eram os que resolviam cálculos, decoravam teoremas e fórmulas e tinham cara e atitude de abestados. Eram bambambans na matemática, física e trigonometria. Dificilmente era considerado inteligente, os melhores em história, literatura, geografia ou educação artística. Matéria pra florzinha. A escola tava nem aí pra talentos.

Os sabidos geralmente ocupavam as carteiras da primeira fila. Fosse menina, eram donas das centrais. Dificilmente trocavam palavras com alguém que não fosse da curriola delas. Possuiam cadernos organizadíssimos, cheios de rosinhas e frescuras. Estojo compartimentado, caneta de 10 cores e apontador ao invés de gilete. Outro traço era usar relógios Champions que trocavam de pulseira. Faziam parte da vida delas também, colecionar e sair pregando em cada página do diário figurinhas de bichinhos ou dos Moranguinho. Fora que no fim do ano, passavam o caderno umas pras outras pra que escrevesse um textinho de recordação. Sabia-se lá se ficariam na mesma escola!

Outro detalhe. Os ‘inteligentes’ eram, na maioria das vezes, comportados ao extremo. Disciplinados. Talvez por isso fossem conduzidos quase todo ano ao posto de líderes de classe. Eleitos ou indicados. Cabia a eles pastorar a turma, pedir silêncio, comunicar a secretaria quando o professor faltava e não avisava e anotar o nome dos bagunceiros. Além, às vezes, de copiar na losa os textos que os professores traziam escrito em papelzinhos.

Virava e mexia e lá estavam eles, no quadro de honra ou recebendo medalha por bom comportamento. Honra ao mérito. Tinha-se dessas coisas, motivo pra frustração da maioria que se sentia desconectado daquele mundinho chato e monocórdio.

Quando chegamos ao Segundo Grau (hoje ensino médio) criaram os tais cursos profissionalizantes. Quem tirava as melhores notas durante o Básico (1º ano), vestia bata branca e ia aprender a fazer sabão no laboratório de Química. Sentiam-se as próprias pregas da rainha Elizabeth. O resto era tangido pros cursos de Magistério ou Contabilidade. Eu fui empurrado para Contabilidade. Pau na moleira e muito saco pra suportar as chatas aulas de probabilidade e cálculos que exigiam máquinas de calcular. Era obrigado ter uma maquinhinha, canelau ou magnata.

Sobre as máquinas de calcular, tinha uma besteira que ajudava a passar o tempo da aula de estatística. Escrevia-se a palavra SEIOS no visor (hoje se diz display) e saia passando pras meninas. Devolviam cotocos como resposta. Presepadas pra sobreviver às coisas chatas da escola dos anos oitenta.

Coisas da escola. Quem passava por média em todas as matérias recebia o boletim na classe e ficava até mesmo desobrigado de fazer a prova final. Apenas uma vez na vida consegui essa façanha. Para os demais, os pais tinham de ir à escola ver as “bombas” e ouvir reclamações das professoras sobre a gente.

De uma turma de 30 alunos, uns sete garantiam o título de inteligente. Os outros ficavam por ali, cara mexendo, pensando na morte da bezerra ou de Inês. Estavam de recuperação e por isso não tinha direito a reconhecimento público. Jeito míope da escola enxergar e construir o mundo. Constrangimento geral, até mesmo pra quem era padronizado de ‘inteligente’. Era tudo ou nada. E não adiantava ter ficado em uma só matéria por meio pontinho. Babau.

Pra escola, o aluno era medíocre ou bom quando conseguia ficar entre sete e oito e meio. Nove era ótimo e dez excelente. Cinco e seis, regular. Quatro pra baixo, insuficiente. Esses estavam lascados e geralmente não mereciam a atenção de professores e sabichões. Sem contar com as ladainhas domésticas. Ameaçavam não deixar ir pro meio da rua, nada de praia, matinê no Cine Marrocos ou assistir jogo do Clube Atlético Marabá no Zinho Oliveira.

Isso no meio do ano, porque se era dezembro, corria o risco de perder o presente de Natal. Dava pra aguentar tudo, menos ficar sem poder jogar futebol com os colegas lá no Granito.

Mas voltando à sala de aula. Gênios eram os que resolviam cálculos, decoravam teoremas e fórmulas e tinham cara e atitude de abestados. Eram bambambans na matemática, física e trigonometria. Dificilmente era considerado inteligente, os melhores em história, literatura, geografia ou educação artística. Matéria pra florzinha. A escola tava nem aí pra talentos.

Os sabidos geralmente ocupavam as carteiras da primeira fila. Fosse menina, eram donas das centrais. Dificilmente trocavam palavras com alguém que não fosse da curriola delas. Possuiam cadernos organizadíssimos, cheios de rosinhas e frescuras. Estojo compartimentado, caneta de 10 cores e apontador ao invés de gilete. Outro traço era usar relógios Champions que trocavam de pulseira. Faziam parte da vida delas também, colecionar e sair pregando em cada página do diário figurinhas de bichinhos ou dos Moranguinho. Fora que no fim do ano, passavam o caderno umas pras outras pra que escrevesse um textinho de recordação. Sabia-se lá se ficariam na mesma escola!

Outro detalhe. Os ‘inteligentes’ eram, na maioria das vezes, comportados ao extremo. Disciplinados. Talvez por isso fossem conduzidos quase todo ano ao posto de líderes de classe. Eleitos ou indicados. Cabia a eles pastorar a turma, pedir silêncio, comunicar a secretaria quando o professor faltava e não avisava e anotar o nome dos bagunceiros. Além, às vezes, de copiar na losa os textos que os professores traziam escrito em papelzinhos.

Virava e mexia e lá estavam eles, no quadro de honra ou recebendo medalha por bom comportamento. Honra ao mérito. Tinha-se dessas coisas, motivo pra frustração da maioria que se sentia desconectado daquele mundinho chato e monocórdio.

Quando chegamos ao Segundo Grau (hoje ensino médio) criaram os tais cursos profissionalizantes. Quem tirava as melhores notas durante o Básico (1º ano), vestia bata branca e ia aprender a fazer sabão no laboratório de Química. Sentiam-se as próprias pregas da rainha Elizabeth. O resto era tangido pros cursos de Magistério ou Contabilidade. Eu fui empurrado para Contabilidade. Pau na moleira e muito saco pra suportar as chatas aulas de probabilidade e cálculos que exigiam máquinas de calcular. Era obrigado ter uma maquinhinha, canelau ou magnata.

Sobre as máquinas de calcular, tinha uma besteira que ajudava a passar o tempo da aula de estatística. Escrevia-se a palavra SEIOS no visor (hoje se diz display) e saia passando pras meninas. Devolviam cotocos como resposta. Presepadas pra sobreviver às coisas chatas da escola dos anos oitenta.