Correio de Carajás

Audiência Pública vira cabo de guerra sobre modelo de Desenvolvimento

O que foi pensado para ser uma Audiência Pública para discutir o desenvolvimento socioeconômico de Marabá e região acabou virando um debate entre defensores do desenvolvimento econômico e industrial e aqueles que defendem o desenvolvimento humano. A reunião segue no Plenário da Câmara Municipal de Marabá, com participação de vereadores, representantes do Senado, da Câmara dos Deputados, da Assembleia Legislativa do Estado do Pará, da Administração Municipal e de movimentos populares.
Na pauta foram apresentadas questões como siderurgia, hidrelétrica em Marabá, Hidrovia Araguaia-Tocantins, revitalização das rodovias federais, revitalização do Distrito Industrial de Marabá, Zona de Processamento de Exportação (ZPE), Ferrovia Paraense (FEPASA) e Porto Público de Marabá.
A audiência foi aberta pela presidente da Câmara Municipal em exercício, Irismar Melo, e o primeiro a falar foi o senador Paulo Rocha, um dos responsáveis pela sugestão de realização do evento. Ele solicitou que o pequeno produtor seja incluído no processo de desenvolvimento criticou cortes federais nos recursos encaminhados aos municípios, além de citar retrocesso em políticas públicas.
Em seguida, o primeiro representante da comunidade a falar foi o presidente da Associação Comercial de Marabá (Acim), Ítalo Ipojucan, que apresentou os temas durante uma fala extensa na qual ressaltou a localização estratégica de Marabá, o que atrai oportunidades de transporte e fronteiras agrícolas. Ipojucan tratou da importância do escoamento de produção por transporte fluvial, citando a tão discutida hidrovia Araguaia-Tocantins como modal importante e o Porto Público de Marabá, associado ao projeto da hidrovia.
“O projeto deve ser resgatado para atrair novos investimentos, agregando empregabilidade e gerando melhora no índice de desenvolvimento humano”, declarou, ressaltando, ainda, a importância do projeto da Ferrovia Paraense (Fepasa) e cobrando engajamento da bancada federal neste assunto, além de citar a Alça Viária em torno dos Distritos Industriais de Marabá.
Defendeu que volte a ser discutido o projeto da Hidrelétrica de Marabá e exaltou a importância da mineração e siderurgia que passam a fazer parte de um eixo único através da Fepasa. Ipojucan também tratou das potencialidades do Distrito Industrial de Marabá, o qual precisa ser revitalizado, do desafio proposto para se verticalizar a produção local.
Rebatendo alguns destes posicionamentos, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Marabá (Simetal), Neiba Nunes Dias, defende que as ideias são boas no papel, mas em Marabá “se vive basicamente de esperança por projetos virtuais”. Para o sindicalista, a soja ocupa muito espaço físico e não gera emprego, lembrando que o setor de siderurgia está estagnado. Reclamou ser comum, próximo às Eleições, vários projetos serem apresentados, porém engavetados após o período. Para ele, o Distrito Industrial da cidade é “um cemitério de recurso público”.
O presidente do Sindicato dos Urbanitários, Otavio Barbosa, também questionou os projetos, alegando serem minúsculos diante do que já foi apresentado anteriormente para a população, citando como exemplo o “Grande Carajás”. Ele aproveitou para alfinetar a Vale S. A, declarando que a mineradora não deixa na região nada do que extrai e que há muita propaganda para pouca ação. Por fim, defendeu a importância de se pensar primeiro no desenvolvimento humano antes de pensar na industrialização da região sul e sudeste do Pará.
Sobre a questão da hidrelétrica, o ex-vereador Ubirajara Sompré explicou que a ideia é ela abranger 12 municípios, nos quais já foram realizadas audiências públicas. Indígena do Povo Gavião, ele afirma que falta apenas a liberação da comunidade que representa, a qual vive na região afetada. “Afirmo que não há expectativa para iniciar as obras porque não se pode inundar as terras indígenas”, declarou.
Ele também tratou da duplicação da Estrada de Ferro Carajás, que corta a Terra Indígena Mãe Maria. De acordo com o ex-vereador, os indígenas não vão permitir a duplicação pela Vale enquanto a mineradora não “respeitar os povos indígenas na região”, afirmando que o estudo de impacto deve ser feito com cuidado uma vez que haverá passivo ambiental à comunidade.
O representante do Sindicato das Indústrias de Ferro Gusa do Pará, Zeferino Abreu Neto, o Zé Fera, reclamou que o setor guseiro foi sacrificado e que a classe nunca foi ouvida, mesmo que gerasse milhares de empregos. Ele pediu que os governos municipal e estadual se unam para alavancar o setor e afirmou que a classe quer preço diferenciado de minério para beneficiar o Distrito Industrial de Marabá, o que poderia voltar a gerar mais de 8 mil empregos. Pediu, por fim, interferência dos deputados junto ao governo estadual para diminuir as burocracias na concessão de licenças ambientais.
O fundador do Centro de Educação, Pesquisa e Apoio Sindical e Popular (Cepasp), Raimundo Gomes da Cruz, utilizou a tribuna durante a audiência para reclamar da própria audiência, a taxando de “inoportuna”. Conforme ele, o desenvolvimento debatido, como a mineração, faz o desalojamento das pessoas em vários municípios da região. “Precisamos reagir, porque a mineração é destruição para a região. Em todos os projetos, só há interesse dos ricos e não para os pobres”.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foi representado por Rosa Reis, que declarou ser “em nome desse desenvolvimento” que o povo está morrendo e se desenraizando. “O agronegócio não é pop, não é top, ele mata o nosso povo de câncer, afasta os povos do campo. O povo não suporta a falta de políticas públicas no campo, a falta de vergonha da bancada, que diz que faz reforma agrária e não dá condições de trabalho para quem está dentro do mato”, disse.
De acordo com ela, o município de Marabá está sendo penalizado. “Os povos do campo do município estão penalizados. Dizem que os sem-terra são vagabundos, então vão vocês plantar na roça de enxada. Os filhos de vocês estudam no exterior para depois mandar dentro do Brasil. O desenvolvimento que vocês pregam destrói a Amazônia”, declarou. (Luciana Marschall)

O que foi pensado para ser uma Audiência Pública para discutir o desenvolvimento socioeconômico de Marabá e região acabou virando um debate entre defensores do desenvolvimento econômico e industrial e aqueles que defendem o desenvolvimento humano. A reunião segue no Plenário da Câmara Municipal de Marabá, com participação de vereadores, representantes do Senado, da Câmara dos Deputados, da Assembleia Legislativa do Estado do Pará, da Administração Municipal e de movimentos populares.
Na pauta foram apresentadas questões como siderurgia, hidrelétrica em Marabá, Hidrovia Araguaia-Tocantins, revitalização das rodovias federais, revitalização do Distrito Industrial de Marabá, Zona de Processamento de Exportação (ZPE), Ferrovia Paraense (FEPASA) e Porto Público de Marabá.
A audiência foi aberta pela presidente da Câmara Municipal em exercício, Irismar Melo, e o primeiro a falar foi o senador Paulo Rocha, um dos responsáveis pela sugestão de realização do evento. Ele solicitou que o pequeno produtor seja incluído no processo de desenvolvimento criticou cortes federais nos recursos encaminhados aos municípios, além de citar retrocesso em políticas públicas.
Em seguida, o primeiro representante da comunidade a falar foi o presidente da Associação Comercial de Marabá (Acim), Ítalo Ipojucan, que apresentou os temas durante uma fala extensa na qual ressaltou a localização estratégica de Marabá, o que atrai oportunidades de transporte e fronteiras agrícolas. Ipojucan tratou da importância do escoamento de produção por transporte fluvial, citando a tão discutida hidrovia Araguaia-Tocantins como modal importante e o Porto Público de Marabá, associado ao projeto da hidrovia.
“O projeto deve ser resgatado para atrair novos investimentos, agregando empregabilidade e gerando melhora no índice de desenvolvimento humano”, declarou, ressaltando, ainda, a importância do projeto da Ferrovia Paraense (Fepasa) e cobrando engajamento da bancada federal neste assunto, além de citar a Alça Viária em torno dos Distritos Industriais de Marabá.
Defendeu que volte a ser discutido o projeto da Hidrelétrica de Marabá e exaltou a importância da mineração e siderurgia que passam a fazer parte de um eixo único através da Fepasa. Ipojucan também tratou das potencialidades do Distrito Industrial de Marabá, o qual precisa ser revitalizado, do desafio proposto para se verticalizar a produção local.
Rebatendo alguns destes posicionamentos, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Marabá (Simetal), Neiba Nunes Dias, defende que as ideias são boas no papel, mas em Marabá “se vive basicamente de esperança por projetos virtuais”. Para o sindicalista, a soja ocupa muito espaço físico e não gera emprego, lembrando que o setor de siderurgia está estagnado. Reclamou ser comum, próximo às Eleições, vários projetos serem apresentados, porém engavetados após o período. Para ele, o Distrito Industrial da cidade é “um cemitério de recurso público”.
O presidente do Sindicato dos Urbanitários, Otavio Barbosa, também questionou os projetos, alegando serem minúsculos diante do que já foi apresentado anteriormente para a população, citando como exemplo o “Grande Carajás”. Ele aproveitou para alfinetar a Vale S. A, declarando que a mineradora não deixa na região nada do que extrai e que há muita propaganda para pouca ação. Por fim, defendeu a importância de se pensar primeiro no desenvolvimento humano antes de pensar na industrialização da região sul e sudeste do Pará.
Sobre a questão da hidrelétrica, o ex-vereador Ubirajara Sompré explicou que a ideia é ela abranger 12 municípios, nos quais já foram realizadas audiências públicas. Indígena do Povo Gavião, ele afirma que falta apenas a liberação da comunidade que representa, a qual vive na região afetada. “Afirmo que não há expectativa para iniciar as obras porque não se pode inundar as terras indígenas”, declarou.
Ele também tratou da duplicação da Estrada de Ferro Carajás, que corta a Terra Indígena Mãe Maria. De acordo com o ex-vereador, os indígenas não vão permitir a duplicação pela Vale enquanto a mineradora não “respeitar os povos indígenas na região”, afirmando que o estudo de impacto deve ser feito com cuidado uma vez que haverá passivo ambiental à comunidade.
O representante do Sindicato das Indústrias de Ferro Gusa do Pará, Zeferino Abreu Neto, o Zé Fera, reclamou que o setor guseiro foi sacrificado e que a classe nunca foi ouvida, mesmo que gerasse milhares de empregos. Ele pediu que os governos municipal e estadual se unam para alavancar o setor e afirmou que a classe quer preço diferenciado de minério para beneficiar o Distrito Industrial de Marabá, o que poderia voltar a gerar mais de 8 mil empregos. Pediu, por fim, interferência dos deputados junto ao governo estadual para diminuir as burocracias na concessão de licenças ambientais.
O fundador do Centro de Educação, Pesquisa e Apoio Sindical e Popular (Cepasp), Raimundo Gomes da Cruz, utilizou a tribuna durante a audiência para reclamar da própria audiência, a taxando de “inoportuna”. Conforme ele, o desenvolvimento debatido, como a mineração, faz o desalojamento das pessoas em vários municípios da região. “Precisamos reagir, porque a mineração é destruição para a região. Em todos os projetos, só há interesse dos ricos e não para os pobres”.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foi representado por Rosa Reis, que declarou ser “em nome desse desenvolvimento” que o povo está morrendo e se desenraizando. “O agronegócio não é pop, não é top, ele mata o nosso povo de câncer, afasta os povos do campo. O povo não suporta a falta de políticas públicas no campo, a falta de vergonha da bancada, que diz que faz reforma agrária e não dá condições de trabalho para quem está dentro do mato”, disse.
De acordo com ela, o município de Marabá está sendo penalizado. “Os povos do campo do município estão penalizados. Dizem que os sem-terra são vagabundos, então vão vocês plantar na roça de enxada. Os filhos de vocês estudam no exterior para depois mandar dentro do Brasil. O desenvolvimento que vocês pregam destrói a Amazônia”, declarou. (Luciana Marschall)

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