Correio de Carajás

A reportagem é o nosso rio

É hora de olhar para a janela do tempo. E nesse espelho, vemos que há muitas despedidas em se nascer 35 vezes, assim na vida como no jornalismo. E, na complexa verdade do tempo, são as despedidas que nos deixam as permanências, compondo o que somos, essencialmente. Em outras palavras: sob os escombros de despedidas, somos o que resgatamos – quando nascemos outra vez.

Esta imagem também espelha o jornalismo diante do tempo. Para os nascimentos que demarcam a sua história – dos espaços públicos de Atenas Antiga à web deste século, dos tipos móveis de Gutemberg (1440) aos caracteres atuais -, foram necessárias certas despedidas.

A opinião como notícia e o jornal como palanque, arroubos de uma primeira imprensa, vão se adequando aos gêneros jornalísticos e à ética, em favor da credibilidade. A curiosidade nata, que emendava histórias populares e informações sem muito rigor, é burilada por técnicas de entrevista e de apuração. Abrem-se fazeres e espaço para o aprofundamento. A reportagem é o nosso rio.

Leia mais:

Aos poucos, a redação se desfez das máquinas de escrever e mesmo da poesia de uma época artesanal; de quando o jornalismo era feito à mão e à memória de repórteres formados pelas crônicas, pelas ruas e pela boemia, como um Frederico Morbach e Ademir Braz, por exemplo. Silencia-se o burburinho das palavras datilografadas, enquanto o pensamento passa a se manifestar no sem-fim digital.

A partir da década de 1990, perdemos escritores e ganhamos jornalistas diplomados.

Neste ir e vir, ampliam-se o mundo e os assuntos, muda-se o estilo de dizer, somam-se meios de contar. O tempo acelera enquanto é preciso se demorar na humanidade. Mas o olhar e o sentir daqueles que se destinam a reportar permanecem e seguem transbordando limites.

E nós, que ainda tecemos o jornalismo de cada manhã, nos perguntamos – aos 10, aos 20, aos 30 ou aos 35 anos – pelas múltiplas verdades dos fatos e pelas mil possibilidades das pessoas. Como os rios que banham a nossa cidade, o jornalismo é perene. Apurar vai além de divulgar por mídias sociais. É mais profundo, assim como é o Tocantins à altura do Inflamável.

Neste sentido, investigamos tanto números quanto sentimentos, delações e silêncios. Investigamos, igualmente, sol e chuva e também nos importa a morte dos peixes, das trabalhadores rurais, das florestas; queremos o voo dos pássaros. Precisamos, mais do que nunca, escrever para significar.

O encontro com o outro é o único sentido de todas as conectividades estabelecidas ao longo dos 35 anos deste Jornal. A história de Marabá e região corre em paralelo com os caminhos da notícia. O dizer, com ou sem hashtags, é outra permanência em nossas despedidas. A potência do que o jornalismo pode fazer não se apaga por conta da derrocada de um modelo… É o conteúdo que vai fazer a diferença. É um conteúdo rico, bem apurado, honesto, inovador também, que foi a marca deste CORREIO.

SONHOS

No papel, no vídeo, na internet, nos smartphones ou apenas nos sons do rádio, que se reinventem muitos meios de transporte: é do jornalismo chegar a um tempo de tanto viver a vida dos outros que não se morre mais. O que acontece é que tem vezes de nos despedirmos um pouco de nós, para nascermos. E aquilo que ainda se deseja em todos esses anos. É o que nos mantém vivos.

Há ainda muitas pautas esquadrinhadas e à espera para ser cumprida. Ao olharmos no espelho do tempo, que ainda seja possível ver o que sonhamos.

Há quem conte o tempo pelo envelhecer: a cada ano, ficaríamos mais velhos. E existem os que percebem o tempo pela resiliência: a cada ano, ficaríamos mais sábios. Seja aos 5, aos 15, aos 25 ou aos 35 anos. Até enquanto houver palavra, até enquanto houver sentimento. Até enquanto houver vida pra dizer, até enquanto houver mundo pra significar. E para concluir, não custa afirmar, com todas as letras, que o jornalismo é perene. Apurar vai além de divulgar por mídias sociais. É mais profundo, assim como é o Tocantins à altura do Inflamável.

 

Ulisses Pompeu começou a trabalhar no CORREIO em 1996, mas sempre parece que foi ontem. Nos últimos 22 anos, garimpa palavras para dizer sobre cultura, política, cotidianos e humanidade.

 

É hora de olhar para a janela do tempo. E nesse espelho, vemos que há muitas despedidas em se nascer 35 vezes, assim na vida como no jornalismo. E, na complexa verdade do tempo, são as despedidas que nos deixam as permanências, compondo o que somos, essencialmente. Em outras palavras: sob os escombros de despedidas, somos o que resgatamos – quando nascemos outra vez.

Esta imagem também espelha o jornalismo diante do tempo. Para os nascimentos que demarcam a sua história – dos espaços públicos de Atenas Antiga à web deste século, dos tipos móveis de Gutemberg (1440) aos caracteres atuais -, foram necessárias certas despedidas.

A opinião como notícia e o jornal como palanque, arroubos de uma primeira imprensa, vão se adequando aos gêneros jornalísticos e à ética, em favor da credibilidade. A curiosidade nata, que emendava histórias populares e informações sem muito rigor, é burilada por técnicas de entrevista e de apuração. Abrem-se fazeres e espaço para o aprofundamento. A reportagem é o nosso rio.

Aos poucos, a redação se desfez das máquinas de escrever e mesmo da poesia de uma época artesanal; de quando o jornalismo era feito à mão e à memória de repórteres formados pelas crônicas, pelas ruas e pela boemia, como um Frederico Morbach e Ademir Braz, por exemplo. Silencia-se o burburinho das palavras datilografadas, enquanto o pensamento passa a se manifestar no sem-fim digital.

A partir da década de 1990, perdemos escritores e ganhamos jornalistas diplomados.

Neste ir e vir, ampliam-se o mundo e os assuntos, muda-se o estilo de dizer, somam-se meios de contar. O tempo acelera enquanto é preciso se demorar na humanidade. Mas o olhar e o sentir daqueles que se destinam a reportar permanecem e seguem transbordando limites.

E nós, que ainda tecemos o jornalismo de cada manhã, nos perguntamos – aos 10, aos 20, aos 30 ou aos 35 anos – pelas múltiplas verdades dos fatos e pelas mil possibilidades das pessoas. Como os rios que banham a nossa cidade, o jornalismo é perene. Apurar vai além de divulgar por mídias sociais. É mais profundo, assim como é o Tocantins à altura do Inflamável.

Neste sentido, investigamos tanto números quanto sentimentos, delações e silêncios. Investigamos, igualmente, sol e chuva e também nos importa a morte dos peixes, das trabalhadores rurais, das florestas; queremos o voo dos pássaros. Precisamos, mais do que nunca, escrever para significar.

O encontro com o outro é o único sentido de todas as conectividades estabelecidas ao longo dos 35 anos deste Jornal. A história de Marabá e região corre em paralelo com os caminhos da notícia. O dizer, com ou sem hashtags, é outra permanência em nossas despedidas. A potência do que o jornalismo pode fazer não se apaga por conta da derrocada de um modelo… É o conteúdo que vai fazer a diferença. É um conteúdo rico, bem apurado, honesto, inovador também, que foi a marca deste CORREIO.

SONHOS

No papel, no vídeo, na internet, nos smartphones ou apenas nos sons do rádio, que se reinventem muitos meios de transporte: é do jornalismo chegar a um tempo de tanto viver a vida dos outros que não se morre mais. O que acontece é que tem vezes de nos despedirmos um pouco de nós, para nascermos. E aquilo que ainda se deseja em todos esses anos. É o que nos mantém vivos.

Há ainda muitas pautas esquadrinhadas e à espera para ser cumprida. Ao olharmos no espelho do tempo, que ainda seja possível ver o que sonhamos.

Há quem conte o tempo pelo envelhecer: a cada ano, ficaríamos mais velhos. E existem os que percebem o tempo pela resiliência: a cada ano, ficaríamos mais sábios. Seja aos 5, aos 15, aos 25 ou aos 35 anos. Até enquanto houver palavra, até enquanto houver sentimento. Até enquanto houver vida pra dizer, até enquanto houver mundo pra significar. E para concluir, não custa afirmar, com todas as letras, que o jornalismo é perene. Apurar vai além de divulgar por mídias sociais. É mais profundo, assim como é o Tocantins à altura do Inflamável.

 

Ulisses Pompeu começou a trabalhar no CORREIO em 1996, mas sempre parece que foi ontem. Nos últimos 22 anos, garimpa palavras para dizer sobre cultura, política, cotidianos e humanidade.