Correio de Carajás

Casos de sarampo passam de mil

Já passa de mil o número de pessoas afetadas pelo sarampo este ano no Brasil. A maioria dos casos foi registrada em dois estados brasileiros em situação de surto: no Amazonas, com 788 episódios confirmados e 5.058 sob investigação; e em Roraima, com 281 confirmações e 111 ainda sendo investigadas. Casos isolados também foram notificados no Rio de Janeiro (14), Rio Grande do Sul (13), Pará (2), Rondônia (1) e São Paulo (1). Erradicada há dois anos, a doença já fez cinco vítimas, quatro em Roraima (três estrangeiros e um brasileiro) e uma no Amazonas (brasileiro).

De acordo com informações publicadas no portal do Ministério da Saúde, os surtos estão diretamente ligados à importação, já que a constituição genética do vírus (D8) que está em circulação no país é o mesmo encontrado na Venezuela.

“Na verdade, o Brasil não tem o vírus, ele foi importado. Com essa demanda de pessoas vindas da Venezuela, veio também a doença, que é altamente contagiosa. Por ela ter essa característica a gente tem que agir rápido. E qual é a única arma que a gente tem? A vacina”, confirma a médica pediatra Valéria Aparecida Ferreira Caselli.

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O sarampo, conforme destaca a especialista, é ainda mais grave em menores de dois anos, já que crianças acometidas pela enfermidade nessa faixa etária podem acabar contraindo, sete ou 10 anos depois, um problema muito mais grave: a panencefalite esclerosante subaguda, um distúrbio cerebral progressivo e, geralmente, fatal. Essa complicação rara que surge do sarampo causa deterioração mental, convulsões e movimentos musculares involuntários.

TRANSMISSÃO

A pediatra esclarece que a transmissão do sarampo ocorre de pessoa para pessoa, por meio das secreções respiratórias expelidas por uma tosse ou um espirro. Ela diz ainda que caso o paciente infectado toque uma superfície, ele passará o vírus para o local/objeto. “O vírus pode ficar alojado na superfície até duas horas, então ao usar os mesmos talheres e copos a pessoa pode contrair a doença”, acrescenta.

Os indivíduos infectados podem transmitir o vírus desde cinco dias antes até quatro ou cinco dias depois que a erupção cutânea surge. “Enquanto ainda tiver as manchinhas vermelhas, porque é em torno de 10 a 14 dias que elas vão sumir, ainda vai transmitir. O problema é que ela pode transmitir antes de manifestar”.

Quanto ao tratamento, a médica lembra que a patologia não possui medicação específica para combater o vírus, destacando a importância da vacinação. Porém, ela informa que a vitamina A é indicada pela Organização Mundial de Saúde para uso nos pacientes com sarampo, pois demonstrou efeito protetor para reduzir as taxas de morbidade e mortalidade em decorrência da doença.

Conforme a pediatra Valéria, a vacina é importante no combate à disseminação da doença/ Foto: Evangelista Rocha

QUADRO CLÍNICO

O CORREIO teve acesso à nota técnica produzida pelas Sociedades Brasileiras de Imunizações (SBIm), de Infectologia (SBI) e de Pediatria (SBP) sobre o sarampo, que foi fornecida pela médica pediatra Consuelo Silva de Oliveira, coordenadora de infectologia da Sociedade Paraense de Pediatria.

No documento, há informações sobre o quadro clínico da doença, que começa com febre alta (acima dos 38,5°C), aparecimento de manchas vermelhas (exantema), tosse, coriza, conjuntivite e manchas de Koplik (pequenos pontos brancos na mucosa bucal que podem aparecer 24 a 48 horas antes das manchas vermelhas).

“O exantema ocorre, geralmente, 14 dias após a exposição ao vírus, e o contágio de quatro dias antes a até quatro dias após o aparecimento das lesões cutâneas”, informa a nota. De acordo com a pediatra Valéria Caselli, a partir do terceiro dia de aparecimento das pequenas manchas avermelhadas na pele, a pessoa não pode ter mais febre. Porém, caso esta condição persista pode indicar complicações da doença, como otite média aguda, broncopneumonia, laringotraqueobronquite e diarreia.

“É importante lembrar que o vermelhão do sarampo não coça igual a rubéola e a escarlatina. E começam as manchinhas na região retro auricular, couro cabeludo e rosto, descendo em direção ao pé”.

SAIBA MAIS

Atualmente o Brasil vem trabalhando para manter o certificado de eliminação do sarampo, recebido no ano de 2016 da Organização Pan-Americana da Saúde, com o andamento da Campanha Nacional de Vacinação Contra a poliomielite e sarampo.

 

SAIBA TUDO SOBRE SARAMPO
Período de incubação do vírus Entre 10 e 12 dias
Sinais e sintomas (3 a 5 dias) Febre, conjuntivite, fotofobia, bronquite, koplik, irritabilidade e fácies vultuosa
Período das manchas vermelhas (exantema) A febre e os fenômenos catarrais acentuam-se quando as manchas vermelhas aparecem
Período de transmissão Durante o período de manifestação dos sinais e até o 5º dia do exantema
Cuidados e prevenção Aplicar vacina contra o sarampo até 72 horas após contato com a pessoa infectada. Após esse período é remendável aplicar a imunoglobulina humana normal
Tratamento da doença Sintomático, com uso de antibióticos nas complicações bacterianas

 

“A única arma efetiva é a vacinação”, diz médica pediatra

 

A Campanha Nacional de Vacinação iniciada na última semana já imunizou 2.271 crianças contra a pólio e 1.980 contra o sarampo em Marabá. Esse quantitativo corresponde a 11,45% do público-alvo para a pólio e 9,98% para o sarampo. Mais de 19 mil crianças de um a menores de cinco anos deverão ser vacinadas no município até o fim da campanha, 31 de agosto. De acordo com a médica pediatra Valéria Aparecida Ferreira Caselli, contra a doença a “Única arma efetiva é a vacinação”.

“Eu sou médica de UTI, então o intensivista é mais resolutivo e curativo. Só que durante esse período de minha vida na UTI, eu vi que muitas crianças chegavam para o meu atendimento, porque não tinham a medicina preventiva. Esse foi um dos motivos que me  fez vir trabalhar em consultório”, lembra. Ela relata que a falta de informação e as fake news também têm sido um problema nos dias de hoje, abrindo porta para a falta de cuidado e aumento das doenças.

“Agora, o que estamos vendo neste surto de sarampo é que está vindo com tudo também a poliomielite, outra doença grave. E eram doenças que estavam erradicadas. Mas por que ocorreram? Porque não teve a vacinação correta. Porque infelizmente a gente está vivendo a era dos Fake News. Hoje muita coisa dentro da medicina alternativa realmente é viável, mas tem muitas outras que vão para o radicalismo, como as campanhas contra a vacinação”, alerta.

ALERGIA

Muitas pessoas evitam imunizar os filhos, porque temem que a vacina pode causar alguma reação severa nas crianças, principalmente naquelas que têm alergia grave à proteína do leite de vaca ou reação anafilática ao ovo. No entanto, a pediatra esclarece que não é preciso ter essa resistência, uma vez que as vacinas produzidas no Brasil são seguras. A nota técnica da SBIm, SBI e SBP corrobora com a informação repassada pela especialista.

Segundo o documento, existem na rede pública as vacinas tríplices virais (sarampo, caxumba e rubéola) provenientes de três diferentes laboratórios: Fiocruz/Bio-Manguinhos, Serum Intitute Of India Ltda e Glaxo Smith Kline Brasil Ltda. Para crianças com menos de cinco anos estão disponíveis a tetra viral (sarampo, caxumba, rubéola e varicela), produzidas pela GSK. Apenas as doses produzidas Índia são contra indicadas para crianças com alergia grave à proteína do leite.

“É impressionante como os brasileiros desprezam a medicina daqui, nós somos um dos países de melhor cobertura vacinal do mundo e é gratuito”.

FAIXA ETÁRIA

Com o intuito de manter a vacinação homogênea, durante a campanha de vacinação as crianças que nunca foram vacinadas contra a poliomielite vão receber a Vacina Inativada Poliomielite (VIP), que é injetável. Enquanto as menores de cinco anos, que já tomaram uma ou mais doses, vão receber a Vacina Oral Poliomielite (VOP), mais conhecida como “gotinha”.

Quanto à imunização contra o sarampo, todas as crianças de um a quatro anos vão ser vacinadas com uma dose da Tríplice viral, independente da situação vacinal, desde que não tenham sido imunizadas nos últimos 30 dias. No entanto, não só os mais jovens estão vulneráveis ao contágio do sarampo, uma vez que a vacinação é recomendada até os 49 anos. (Nathália Viegas)